Destaques do 56º Salão do Móvel de Milão

O ano só começa, de fato, após o Salão de Milão. Ao menos para arquitetos, designers, jornalistas e profissionais da área de decoração, que aguardam ansiosamente as tendências de marcas e criadores de peso.

Entre os dias 4 e 9 de abril, os eventos e mostras Salone e FuoriSalone (dentro e fora do Salão) reuniram cerca de 2500 expositores. Mais de 370 mil visitantes de 165 países estiveram lá em busca de novidades, que este ano incluíam os lançamentos da exibição internacional de iluminação, Euroluce.

A marca Diesel Living foi um dos destaques da semana de Milão. Confira os outros.

Tendências do Salão do Móvel de Milão

Em 2017, o evento estava mais politizado – influência da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e das crises de imigrantes e refugiados na Europa, entre outros acontecimentos. Havia uma conotação mais colaborativa, com várias marcas e designers fortalecendo parcerias. E uma série de apostas interessantes, como o retorno do mármore e das estruturas tubulares, o glamour dos anos 1970 e a confirmação do design escandinavo.

Entre os materiais, especial destaque para os bambus, que dividem a atenção com a madeira. No quesito cores, a novidade são os terrosos e alaranjados, para aquecer a decoração, sem deixar de lado os tons pastéis. O que acaba abrindo caminho para influências mais quentes, vindas da África e da América Latina, em peças com uma pegada artesanal.

Confira a seguir peças destaques que resumem estas e outras tendências desta edição.

Tendência: 70s

A atmosfera glamourosa e um tanto quanto maximalista desta década são atualizados em peças com apelo gráfico e cores elegantes.

O Dimore Studio apresenta o trabalho de Emilio Salci e Britt Moran, que mesclam a atmosfera dos anos 70 a inspirações que vão do futurismo ao art déco. As lanternas florais oversized foram um dos destaques do apartamento apresentado em Milão.

Metais polidos, escovados e oxidados tornam as mesinhas de café objetos glamourosos, da designer italiana Francesca Lanzavecchia.

Tendência: Colaboração

A parceria criativa entre designers e marcas mostrou resultados relevantes nesta edição, enfatizando a ideia atualíssima de colaboração e diálogo. A Vitra contou com o talento de Barber & Osgerby, Hella Jongerius e Erwan e Ronan Bouroullec; o britânico Max Lamb se uniu à manufatura de tecidos dinamarquesa Kvadrat; o espanhol Jaime Hayon trabalhou com a Caesarstone. Mas a união que deu o que falar foi do badalado designer Tom Dixon e a fábrica sueca de móveis populares Ikea.

O showroom mostrou entre outras peças o sofá modular Delaktig sofa, de Tom Dixon para a Ikea.

Outra parceria foi de Tokujin Yoshioka e da marca de eletrônicos LG, que completa 70 anos. O trabalho, que rendeu o Milano Design Award 2017, tem ares de ficção científica e inclui a instalação com as cadeiras S.F, para uma imersão nos painéis de luz.

Tendência: Geométricos

Desenhos marcantes e delicados são construídos a partir de linhas finas bastante precisas, em um mobiliário vazado que esbanja leveza.

Olafur Eliasson desenvolveu para a Moroso a coleção Green Light, que trabalha o frame triangular e as formas de ziguezague em aço, criando novos padrões.

A poltrona Sign é um ícone da MDF Italia, de Piergiogio Cazzaniga. Ele clássico ganhou releitura em fios metálicos, que podem vir em dourado, preto ou rosé.

A poltrona Truly Truly, de Joel e Kate Book, australianos radicados na Holanda, é uma aula de geometria, com linhas paralelas.

Tendência: Construção

A proximidade com obras e arquitetura pode ter levado os designers a perceberem com outros olhos os materiais construtivos.

O designer Alê Jordão foi o único brasileiro a se apresentar na praça central da universidade, a Cortile D’Onore. A instalação artística Guard Rail, da qual esta cadeira faz parte, foi criada a partir de grades de metal amassadas, garimpadas em sucatas.

Os vasos Cassero, de Patricia Urquiola para a Serralunga, lembram betoneiras.

Tendência: Módulos

A exigência de espaços versáteis e dinâmicos consolida a forte presença de estruturas modulares. Elas são híbridas, multifuncionais e mostram a importância de peças inteligentes.

Uma das apostas da marca britânica Ercol foi nos armários da série Modulo, fabricados em carvalho maciço.

Da Nendo para a Flos, a luminária Gaku é praticamente uma mobília. Assinada por Oki Sato, pode abrigar livros, organizar objetos e até plantas.

O brasileiro Gustavo Martini veio com o objeto híbrido The Grove, com estrutura aramada que possibilita diversos formatos.

Foi-se o tempo dos sofás rígidos em uma única peça. A Roche Bobois Paris aposta nos módulos no Octet.

A parceria de Tom Dixon com a Ikea rendeu o sofá modular Delaktig.

Tendência: Natural

Couro, madeira e bambu têm a beleza natural evidenciada em peças que extrapolam o estilo rústico, com um desenho elegante.

O bambu tem destaque na temporada – como ele cresce mais rapidamente, tem mais disponibilidade do que árvores convencionais e sua extração impacta menos o ambiente.

É a principal matéria-prima da coleção Khora, uma colaboração entre o designer chinês Adrian Cheng e seu mestre recém-falecido Shigeru Uchida.

As cabines dos caminhões que rodam o Brasil são o ponto de partida para a cadeira Boléia, em madeira natural. Um dos destaques da Ars Fabricandi, assinada por Rafael Chvaicer.

Mesa Tabuleiro, de Fernando Jaeger, com pés em madeira maciça conectados ao tampo por uma haste central de aço.

Tons terrosos estavam em evidência, como os terracotas utilizados pela Minotti, na coleção de cadeiras Aston.

Tendência: Feito à mão

Técnicas manuais revivem tradições ou aproximam povos distantes, incorporando culturas e um toque global aos espaços. A riqueza desses saberes é valorizada em formas depuradas, que destacam trançados, tecidos e várias referências.

Banqueta Matmatic, da alemã Anne de Jongh.

Coleção de luminárias Kabuki, de Ferruccion Laviani para a Kartell.

A coleção Loewe This is Home, foi concebida por Jonathan Anderson como uma colagem. Ele cria um universo de luminárias, cerâmicas, almofadas e móveis que trazem para a casa o calor de diversos materiais trabalhados artesanalmente.

Tendência: Outros destinos

As belezas e tradições do continente africano são redescobertas e captadas em peças com uma pegada artesanal, que supera a noção do étnico. A criatividade também vem de outros lugares, como a Colômbia.

A marca AMES é fundada por uma colombiana. Não por acaso, a paleta de cores tropical inspira a série Caribe, de Sebastian Herkner, que criou esta namoradeira feita à mão.

A italiana Marni encontra a Colombia e não esconde o fascínio pelas cores do país na coleção. Lúdica, é elaborada em PVC em parceria com um grupo de artesãs locais.

De Tord Boontje para a Moroso, a cadeira Senegal-O tira partido das possibilidades de tecer à mão uma simples padronagem. A ideia veio de um presente que o designer recebeu no aniversário, feito por sua filha Evie.

Tendência: Escandinavo

A mostra “Everything is Connected” (tudo está conectado), com curadoria da arquiteta Katrin Greiling, mostra o trabalho de 30 artesãos noruegueses. O evento reforça a importância dos escandinavos, com uma produção variada de objetos funcionais, simples – e irresistíveis. Alguns são desenvolvidos em madeira, cerâmica, alumínio.

Luminária assinada por Falke Svatun.

Live Berg Olsen apresentou o sistema batizado de Super Normal, com peças adaptáveis e na cor preta em carvalho maciço e aço. Aliás, a noção de “normalidade” é uma tônica em várias peças este ano.

O mecanismo simples e funcional das caixas de fósforo conduziu Sara Polmar, designer da Matchbox, a criar esse sistema de móveis híbridos. Eles podem funcionar como prateleiras, empilhados e outras possibilidades.

Tendência: Mármore

A pedra confere um ar de nobreza instantâneo quando aplicada. Comum em ambientes clássicos, promete ganhar espaço em espaços com outros estilos.

Relógio do londrino Lee Broom, inspirado na lembrança de seu avô.

Tendência: Cores

Tons calorosos dão um descanso para os cinzas. O momento é de apostar no vermelho, no amarelo e no Flame Orange – um laranja que figurou em recente relatório da Pantone. Fique de olho também nas cores lavadas e pasteis, como o ingênuo baby blue e um pink mais pálido e adocicado.

Cadeiras Be Bop, de Ludovica e Roberto Palomba para a Kartell.

Cila, cadeira de Lievore Altherr para a Arper.

Coleção Generic, de Philippe Starck para a Kartell.

Linha Trama, de Patricia Urquiola para a Kartell. Pratos, copos, bowls e garrafas em plástico PMMA.

Tendência: Novos materiais e técnicas

Ao mesmo tempo que mármore, madeira e bambu estão em evidência, a mente inquieta dos criadores não para de pesquisar novas saídas para ampliar o universo de matérias-primas, em busca de peças mais sustentáveis ou resistentes.

Benjamin Hubert apresentou seu projeto de tricô digital para a Moroso, trazendo dois protótipos da cadeira Tent (tenda) com uma complexa malha 3D.

Jornal reciclado e cola para madeira. Essa é a base dos PaperBricks, ou tijolos de papel, de WooJai Lee. O resultado é um material super resistente, com aparência de pedra e o toque delicado de papel, além de trazer a estética atualíssima dos materiais de construção.

O britânico Max Lamb aplica um material rígido e de alta densidade chamado Solid Textile Board, produzido a partir de algodão e lã reciclados. Com ele, é possível executar bancos e outras peças, da marca Really.

Tendência: Luz

Este ano, o Salão do Móvel coincidiu com a Euroluce, exibição bienal de lighting design. Pendentes esculturais chamaram a atenção, assim como o glamour 70’s e o minimalismo.

Os pendentes Cut, de Tom Dixon, possuem corte facetado e exploram o brilho como um caleidoscópio.

A marca Diesel Living se consolida no mercado de design de interiores (a Diesel já é bastante conhecida no cenário de moda) e combina forças com a italiana Foscarini – autoridade em iluminação. A união entre moda retrô e luxo inspira a última coleção, com ares de cocktail-party dos anos 1970.

Tendência: Surrealismo

Aquele momento em que a liberdade criativa é levada adiante pelos designers, mas que revelam um imenso potencial de ampliar as fronteiras da imaginação. Palhaços, obras de arte e até o desejo de sonhar acordado são matéria-prima, em combinações muitas vezes inusitadas.

Fernando e Humberto Campana desenvolveram o sofá Bomboca, com gomos que podem ser destacados para virar pufes, cobertos com uma espécie de casca rígida em couro. A inspiração? Doces de marshmallow servidos em festas infantis e casamentos no Brasil. O item compõe a coleção Objets Nomades, da Louis Vuitton.

Na mostra da Caesarstone, James Hayon apresentou o armário Clown, que mescla referências no universo circense ao estilo de máscaras africanas.

Já Jaime Hayon criou desenhos surrealistas para o aniversário de 30 anos da Nanimarquina. Homens com cabeça de pássaro, partes do corpo soltas, tartarugas e outros elementos convivem nos tapetes da marca espanhola.

Pierre-Emmanuel Vandeputte apresenta o Paradosso (paradoxo), que é uma cama para se dormir em pé. “Perfeita para sonhar acordado”, afirma o designer belga. Fabricado em couro e estrutura tubular.

Elena Salmistraro associa diversas formas no armário Polifemo, ao ponto de lembrar um ciclope com um olho só e longas pernas – por mais estranho que pareça, o resultado é sofisticado!

Texto: Luciana Andrade.