Jane Jacobs: a mulher que salvou Nova York e mudou o urbanismo no século XX

Jane Jacobs foi eleita recentemente pela revista Planetizen a urbanista mais influente de todos os tempos (o segundo colocado da lista é o brasileiro Jaime Lerner).

Apesar de nunca ter se formado em urbanismo, essa ativista e jornalista americana foi pioneira na defesa da criação de cidades amigáveis.

Hoje suas ideias parecem até óbvias, mas foi graças ao discurso revolucionário de Jane Jacobs que vários bairros de Nova York não foram destruídos devido a modernização da cidade a partir dos anos 50.

Jane Jacobs e Robert Moses, engenheiro responsável pelo planejamento da cidade por mais de 3 décadas, protagonizaram embates históricos relacionados a projetos urbanísticos polêmicos. Quer conhecer mais sobre a história dessa incrível urbanista?

No post de hoje, trouxemos um resumo sobre a trajetória de Jane Jacobs. Acompanhe!

Jane Jacobs: biografia

Jane Jacobs nasceu em Scranton, Pensilvânia (EUA), no dia 4 de maio de 1916.

Após formar-se no ensino médio, ela trabalhou por um ano como assistente não-remunerada na publicação Scranton Tribune.

Em 1935, durante a Grande Depressão, Jane Jacobs mudou-se para Nova York com a irmã, cidade que mudaria sua vida para sempre.

Lá, Jane Jacobs começou a observar a estrutura dos bairros, se interessando imediatamente por Greenwich Village, bairro de Manhattan que se diferencia por não seguir a grade estrutural da cidade.

Jane Jacobs em frente sua casa em Toronto

Jane Jacobs em frente à sua casa, em Toronto

Durante os primeiros anos na cidade, Jane Jacobs teve vários empregos, trabalhando principalmente como estenógrafa e jornalista freelancer. Ela chegou a vender artigos para as revistas “Cue” e “Vogue”.

Apesar de ser um dos nomes mais importantes do Urbanismo mundial, Jane Jacobs não se formou em arquitetura. Ela estudou na Universidade Columbia por dois anos, cursando geologia, zoologia, direito, ciências políticas e economia.

Após formar-se, Jane Jacobs escreveu um artigo em 1943 sobre o enfraquecimento da economia de Scraton, o que levou a Corporação Murray a implantar uma fábrica de aviões por lá.

Com o sucesso de sua iniciativa, Jane Jacobs organizou uma petição para a Comissão de Produção de Guerra (War Production Board) para que apoiasse mais operações em Scraton.

Tempos depois, ela tornou-se articulista para o Escritório de Informação de Guerra (Office of War Information) e depois relatora para o Amerika, uma publicação do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Foi nesse período que Jane Jacobs conheceu Robert Hyde Jacobs Jr, um arquiteto que projetava aviões de guerra. Eles se casaram em 1944 e tiveram 3 filhos.

Jane Jacobs e Robert Hyde Jacobs Jr (1944)

Jane Jacobs e Robert Hyde Jacobs Jr (1944)

Nos anos 50, Jane Jacobs foi convidada para ser editora da revista Architectural Forum. Foi aí que ela começou a publicar artigos criticando as tendências urbanísticas de Nova York na época.

Naquele período, marcado pelo intenso desejo de modernização da cidade, havia um grande interesse de demolir prédios antigos e bairros inteiros para a construção de avenidas. Foi um claro exemplo de gentrificação em Nova York.

Jane Jacobs foi a primeira voz de resistência contra os excessos de um urbanismo que não pensava no bem-estar da população como um todo.

Ela participou de conferências nas Universidades da Pensilvânia e de Havard criticando conceitos da arquitetura moderna e a revitalização de bairros, já que não havia uma preocupação em preservar sua história.

Jane Jacobs foi às ruas lutar contra a construção de uma via elevada que cortaria uma praça e destruiria o bairro onde ela morava, Greenwich Village, e conseguiu fazer com que o projeto fosse arquivado.

Jane Jacobs: manifestação em Nova York

Jane Jacobs: manifestação em Nova York

Nos anos 60, Jane Jacobs ainda lutou pela preservação de vários bairros, chegando a ser presa 2 vezes.

Em 68, com medo de que seus filhos fossem recrutados para a Guerra do Vietnã, Jane Jacobs mudou-se para o Canadá. Lá ela continuou com o ativismo em busca da preservação de cidades.

Jane Jacobs com o marido e a filha em um protesto contra a guerra do Vietnã (foto: Toronto Life)

Jane Jacobs com o marido e a filha em um protesto contra a guerra do Vietnã (foto: Toronto Life)

Jane Jacobs faleceu no dia 25 de abril de 2006.

Veja também: Entenda de um jeito simples o que diz o Estatuto da Cidade

Jane Jacobs e Robert Moses: o embate urbanístico do século XX

Em 1955, Jane Jacobs começou um “embate” de vários anos com Robert Moses, engenheiro responsável pelo planejamento de Nova York por mais de 3 décadas.

Jane Jacobs e Robert Moses: o embate do século no urbanismo

Jane Jacobs e Robert Moses: o embate do século no urbanismo

O primeiro conflito com Robert Moses aconteceu após Jane Jacobs receber um panfleto de um comitê que tentava salvar o bairro de Greenwich Village.

Havia um projeto que previa a demolição de 14 quarteirões. Após protestos, ele foi engavetado.

Outro conflito aconteceu quando Jane Jacobs criticou um projeto que tinha como objetivo criar uma via expressa que cortaria a Washington Square.

Jane Jacobs: propaganda do projeto Lower Manhattan Expressway, de Roberto Moses

Jane Jacobs: propaganda do projeto Lower Manhattan Expressway, de Roberto Moses

A obra destruiria cerca de 450 prédios nos bairros de Soho, Village, Little Italy e Lower East Side, regiões que na época eram consideradas decadentes.

Jane Jacobs reuniu moradores em manifestações e chamou a atenção da mídia e do governo, impedindo a construção do elevado.

Jane Jacobs: pessoas em manifestação contra o elevado em Manhattan

Jane Jacobs: pessoas em manifestação contra o elevado em Manhattan

Tantos embates deram origem à música “Listen, Robert Moses”, composta por Jane Jacobs e Bob Dylan.

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Morte e Vida de Grandes Cidades: o livro que mudou a história do urbanismo

Em 1956, Jane Jacobs ganhou uma bolsa da Fundação Rockfeller, que lhe deu a possibilidade de escrever seu primeiro livro, “Morte e Vida de Grandes Cidades” (The Death and Life of Great American Cities), publicado em 1961.

O livro é um divisor de águas no urbanismo, e suas ideias influenciam até hoje o trabalho de grandes urbanistas, como Jan Gehl.

Nele, Jane Jacobs fez duras críticas à arquitetura moderna que, segundo ela, prejudicava o convívio da comunidade ao setorizar bairros e incentivar a construção de avenidas.

Jane Jacobs Morte e Vida de Grandes Cidades (The Death and Life of Great American Cities)

Jane Jacobs: Livro “Morte e Vida de Grandes Cidades” (The Death and Life of Great American Cities)

Na obra, Jane Jacobs também questiona o planejamento urbano de várias cidades naquele período. Veja alguns assuntos que ela aborda nos livros:

Conceito de “olhos na ruas”: a urbanista defendia a criação de ruas largas e atrativas para o convívio da comunidade, que passaria a sentir-se mais segura.

Redução da circulação de automóveis: Jane Jacobs crítica o aumento de estacionamentos rodeados por vias expressas, sem possibilidade de vida nas ruas.

Setorização dos bairros: Para a urbanista, os ensinamentos de Le Corbusier, que incentivavam quadras sem calçadas conectadas com via expressas e bairros setorizados, deixavam as pessoas isoladas.

Além de “Morte e Vida de Grandes Cidades”, Jane Jacobs publicou mais 3 livros. Veja quais são:

Livros de Jane Jacobs

  • Morte e Vida de Grandes Cidades (The Death and Life of Great American Cities) – 1961
  • The Economy of Regions (Economia das regiões) – 1969
  • The Nature of Economies (A Natureza das Economias) – 2000
  • Dark Age Ahead (Era sombria adiante) – 2004

E aí, gostou de conhecer mais sobre a história de Jane Jacobs? Se você se interessa por urbanismo, aproveite para ler também: Saiba tudo sobre Urbanismo e inspire-se com os maiores urbanistas do mundo!

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